quinta-feira, 26 de maio de 2016

Ironman South African Championship 2016 - Relato de prova - Parte 2


10 de Abril de 2016... 03h30min da madrugada.

Como já é bem comum, dormi muito pouco na noite pré-prova. Sempre tenho pesadelos nos dias anteriores de que perco a hora da largada, mas no fundo eu sei que é muito difícil isso acontecer... A ansiedade mal nos deixa dormir!!!

A mesma rotina de quase um ano atrás em Floripa... Café da manhã no quarto, quatro horas antes da largada. Arruma cabelo, veste a roupa, confere se tudo está na sacola branca: caramanholas, wetsuit, nutrição... E confere tudo de novo! Noite escura e silenciosa, saímos 4:45 do hotel e fomos caminhando até a transição. No trajeto, vamos nos juntando a outros tantos atletas e o pensamento vai longe: misto de concentração e lembranças de tudo que passou até ali. A garganta dá aquele nó e algumas lágrimas contidas querem cair, mas a adrenalina já toma conta e não deixa.

Chegamos na transição após 1,5km de caminhada e me concentro para não esquecer nenhum detalhe: calibro pneus, preparo as caramanholas, clipo sapatilhas. Hora de deixar o que faltou nas sacolas de ciclismo e corrida. Termina e confere tuuuudo novamente. Dessa vez esqueci minha lanterna de cabeça, vacilo. Me virei com a lanterna do celular, mas seria mais fácil se tivesse trazido.


Na transição pré-prova... Tudo escuro ainda!

A largada, inédita para mim e também no Ironman South Africa, foi definida como "rolling start". Há um esforço por parte da franquia para reduzir ao máximo as largadas em massa. Por mais emocionantes e impactantes que sejam, elas não são nada produtivas. Só injetam mais tensão nos triatletas, já que muitos de nós não encaram a natação em mar aberto como algo tranquilo. O festival de socos, chutes e pontapés até localizar a "bolha" onde se consegue nadar deixa qualquer um bem tenso. Nesse sentido foi implementada a rolling start: os atletas se organizam sozinhos pelo pace de natação que provavelmente farão. A cada 10 segundos, grupos de 10 atletas saem para começar a prova.

A minha idéia foi chegar bem cedo e ficar para entrar logo na frente e evitar as ultrapassagens, que consomem esforço e requerem desvios na navegação. Deu certo: consegui me posicionar bem na frente! Aos poucos o sol foi surgindo no horizonte da praia e a paisagem foi ficando mais linda e imponente.

Aquele sentimento de alegria, gratidão tomou conta de mim ao alinhar na baia de largada. Agora, porém, eu estava muito mais concentrada do que na primeira prova em Floripa. Eu já sabia que seria um longo dia e queria começar fazendo bem os 3.800m de natação. Me preparei muito para isso e queria sair da água num tempo bom. O mar estava mexido, mas melhor do que nos dias anteriores. Primeiro tiro de canhão, largam os homens da elite. Alguns minutos depois, as mulheres. E então soou a buzina uma vez e a próxima foi a minha largada. Parti concentrada, correndo, sem medo da água. Começou o meu segundo Ironman!


A largada...
Bóia de retorno (última bóia do percurso) e área de transição atrás do pier


O percurso da natação na África do Sul consiste em uma volta no formato retangular, sem saída para a praia no meio como ocorre em Floripa.



A correnteza estava a favor na ida, logo eu soube que a volta seria bem chata. Havia bóias intermediárias para auxiliar a navegação e considero que naveguei muito bem, fiz só 4000m (200m a mais do que o oficial), o que nesta prova é excelente, algumas pessoas chegaram a nadar 4500m... O que eu não contava era com as marolas que foram tirando minha força. Na segunda virada de bóia, veio o retorno e a correnteza jogando contra. A velocidade caiu sensivelmente, mas o pior foi o enjôo... Não consegui forçar o ritmo na volta, como eu tinha treinado tantas vezes. Fui levando num ritmo bem confortável, quando eu tentava forçar o enjôo aumentava e eu sabia que isso podia estragar minha prova. Perder alguns minutos na natação não ia me atrapalhar tanto assim, contanto que eu saísse o menos enjoada possível para pedalar. E assim fui no interminável retorno de aproximadamente 1900m até terminar. 1:11:23, mais do que eu gostaria, mas ainda assim muito bom. Saí feliz por ter terminado a primeira parte e cansada daquela marola toda, querendo muito começar o pedal para me sentir melhor.

Saída da natação...

...a cara de sofrimento diz tudo!

Ainda era cedo mas o calor já estava mostrando o que seria dali pra frente o dia! Em Floripa considerei ruim meu tempo na T1 e agora eu queria fazer mais rápido. Fui bem focada para não esquecer nada e ao mesmo tempo não perder tempo. Blusa, capacete, óculos, uma parada muito rápida para as voluntárias colocarem protetor no antebraço e pernas e bora pedalar! 4:30 de T1, 3 minutos a menos do que em Floripa! Muito bom, bem melhor e um tempo bem aceitável para uma transição de Ironman.

Dia lindo, nenhuma nuvem no céu e pouco vento até agora... Tudo para um bom pedal certo? Saí ainda meio zonza da natação, mas logo consegui me acertar e hidratar, alimentar e encontrar o ritmo. O ciclismo percorria estradas secundárias com muitos trechos expostos na beira do mar, ali dias de vento são cruéis e o vento leste sempre atrapalha mais. A previsão era pouco vento para os padrões locais. Começamos com cerca de 10km/h e o vento era a favor na ida, contra na volta. Eu já tinha minha NP (potência normalizada) programada para a prova (testes feitos na época de treinos) e procurei me manter dentro dela, sem empolgar. Sempre lembrava o que tinha ouvido da Paula Newby Fraser um dia antes: controle seu ritmo. Se você sentir que está leve após algum tempo, pode sempre acelerar um pouco. Mas se tiver que reduzir, os problemas começaram... No início senti que realmente estava fácil, eu queria apertar mais mas segurei. Terminei a primeira volta bem, média aceitável para a altimetria e vento que pegam bem mais do que Floripa... Abri a segunda volta me sentindo bem. Quando mexo nos bolsos para pegar meu refil de pó de carbo + bcaa para a caramanhola, vejo que esqueci uma mistura das três na sacola branca... No escuro da madrugada eu não peguei as duas misturas que deveriam estar no bolso da camisa! Tudo bem, eu tenho carbo e proteína extras na bike. Refaço as contas mentalmente e vambora.


Pedal duro e lindíssimo!

A segunda volta foi bem difícil... Calor aumentou muito, não tinha nenhum trecho de sombra e o sol estava torrando! Aumentei a ingesta de líquidos sensivelmente e passei a molhar mais as pernas e pescoço para resfriar. Eu via a média de velocidade caindo, mas não me preocupei porque vi que o vento estava aumentando. O retorno foi muito, muito mais lento do que na primeira volta. A potência, porém, mantinha-se no programado sem cair. Confesso que foi muito desanimador ver que eu iria entregar a bike em mais de 6 horas. Mesmo sabendo que o cenário era muito diferente de Floripa (altimetria, vento, calor), eu não imaginava fazer mais de meia hora a mais na bike. Ao mesmo tempo, foi um alívio sair daquela estrada linda mas com um baita vento contra (já passava de 20km/h, o que nem era tanto mas somados com o calor e as pirambas, já tava tirando a paciência!) e entrar na rua principal de Hobie Beach! Ali a torcida empurrou, a música empolgou e foi muito bom entregar a bike sem nenhum problema mecânico, bem hidratada apesar do calor e pernas boas para a corrida...

Cansada e feliz por terminar o pedal


Coloquei a bike no hack e até ensaiei uma corridinha para a tenda de troca. Logo já desisti e achei melhor caminhar bem rápido, respirar e mentalizar o que eu tinha que pegar e fazer na troca de modalidade. Ao chegar na tenda, sentei numa cadeira e as voluntárias vieram ajudar. Foram muito prestativas, mas tiraram tudo da sacola e eu não queria! Eu ia usar uma sacolinha que sempre levo com todos os géis, sal etc e sair com ela correndo para não perder tempo, elas viraram a sacolinha com tudo no chão... Paciência, expliquei que não queria, juntei tudo e agradeci! Protetor até na alma, porque o sol estava muito forte... Uns 33 graus quando saí no relógio da rua. Ali, senti a primeiro ponto muito baixo da prova. A cabeça deu aquela pifada, saí cabisbaixa, sem correr, só caminhando enquanto colocava os géis nos bolsos e pensava nos longos 42,2 km que tinha pela frente... Sim, deu vontade de desistir. Não, lógico que eu sabia que eu não iria parar. Mas isso acontece em provas de endurance... É a arte de administrar os momentos onde a cabeça dá defeito e saber aproveitar os momentos bons. Agora você quer parar, dali a uma hora está se sentindo no topo do mundo!!!

A corrida era feita em 4 voltas de 10,5 km aproximadamente. Não é a parte mais linda que certamente é o ciclismo, onde o percurso é duro e lindo na mesma proporção. Mas é a parte mais emocionante. Não consigo colocar em palavras o que é a torcida no IM South Africa. Você não fica sozinha em NENHUMA parte do percurso. Tem torcida em todos os lugares, muita gente, gritando sem parar! A diferença é que eles incentivam não só quem conhecem, mas sim TODOS os atletas. É lindo e emocionante, você sente vontade de agradecer to tempo todo. Eles gritam o seu nome, jogam água para refrescar, é demais!

Nem por isso foi fácil, mas acho que a torcida me ajudou muito. Saí super derrotada, mas negociei com a cabeça que eu iria correr num pace suportável e caminhar nos postos de hidratação, aquela caminhada rápida para poder hidratar, resfriar o corpo e tomar os géis. Funcionou. Os primeiros 15 ou 17 km foram os mais difíceis que já fiz, a cabeça pedia para parar, o calor fritando e precisei parar duas vezes no banheiro. Mesmo assim, no meio do festival de gente caminhando eu até que não estava a pior... Conseguia passar muita gente.

Saindo para correr... A própria derrota em forma de gente! Cabeça baixa pensando no que fazer...


A partir do momento que abri a terceira volta o ânimo foi melhorando! Incrível como a mente é poderosa, eu achei que não tinha pernas mas era tudo jogo mental. No momento que a cabeça melhorou, as pernas funcionaram e passei a correr mais confiante, cada grito da torcida que nos primeiros km chegava a incomodar (cheguei a desejar silêncio, tudo tava me irritando!) me animava e eu não queria mais parar! Peguei a última pulseira e abri a última volta vendo o sol que começava a se pôr.


Sol no rosto e a melhor sensação da vida em pleno km 37 da maratona de um Ironman! Vai entender...

Eu queria muito terminar antes do sol se pôr. Ano passado foi por pouco, mas terminei já no início da noite... Comecei a achar que ia dar tempo dessa vez e foi então que a melhor parte de todo a prova começou! Ano passado eu lembro que os últimos 10,5km foram bem sofridos, só senti aquela euforia quando cheguei na Búzios e vi minha família e a Lia, minha amiga que foi assistir a prova. E agora eu experimentava a sensação incrível de correr bem os últimos 10km do Ironman. Que sensação! A torcida gritava para continuar, que eu estava muito bem, e isso só me fazia acelerar. Eu nem queria mais parar para hidratação, só queria correr e aproveitar aqueles últimos minutos desse dia louco que foi 10 de abril de 2016... Sabia que não tinha sido o tempo que eu queria (eu nem pensava que estaria tão quente e que a prova seria tão difícil, por mais que eu tivesse estudado e me preparado!), mas eu estava ali, tinha controlado meu ponto baixo, não desisti e estava acabando!

Fiz os últimos km olhando o sol que estava um espetáculo no horizonte e pensei em tanta coisa... Eu sentia vontade de chorar, mas não dava para correr e chorar ao mesmo tempo! Algumas lágrimas insistiram em rolar, pensei em todo mundo que estava acompanhando e torcendo, pensei nos treinos, nas festas de final de ano que foram bem menores porque os treinos e a dieta não aliviaram, no quanto mudei desde que comecei no triathlon, e no privilégio de estar num lugar lindo fazendo o que amo tanto!!!! Agradeci muito. Virei para a linha de chegada e peguei minha bandeira do Brasil, cheguei no tapete vermelho gritando, levantei os braços, fiz hi-5 no Paul Kaye que narrava as chegadas, escutei meu nome, as luzes todas... A linha de chegada mais linda que já vi!! Cruzei pela segunda vez o pórtico de um Ironman, mais uma vez emocionada e feliz como nunca!




 


 Eu nem me preocupei com minha colocação, nem queria saber nada! Só curtir aquela vibe e aquele momento... Fui pra tenda de massagem, terminando eu fui pra chegada novamente me encontrar com o Fábio (meu noivo) que terminou a prova! Nos abraçamos, tiramos foto e conversamos ainda na adrenalina sobre as sensações de cada um na prova... 

Chegando no hotel fui olhar minhas mensagens e só aí descobri que tinha sido a quinta da categoria! Quase caí pra trás! Como são as coisas... Cada prova é uma prova! Eu ali, fazendo prova com as européias casca grossa, achei que tinha me arrebentado toda com 11:30 (quase 45 minutos a mais do que Floripa) e no fim fiquei muito melhor colocada! Só completou minha felicidade e mostrou que o caminho é esse!!!

No dia seguinte fui para a rolagem de vagas, mas eu já sabia que era bem difícil que rolasse a vaga! Não rolou, eram duas vagas e as duas primeiras meninas ficaram. Mas me sinto incrivelmente feliz só por ter ficado perto!!! É sonho? Sim! É o principal objetivo? Não, como amadora eu quero mesmo é poder fazer provas diferentes, conhecer lugares novos e melhorar cada dia mais, ganhar mais segurança para poder lidar com as situações difíceis que sempre acontecem e aproveitar o dia... Mesmo tendo sido uma prova dura, foi um dia muito feliz, sorri muito, me senti a rainha da África correndo os últimos 10 km da prova, vou levar na lembrança por uma vida toda!

Hoje, quase dois meses depois, só sinto muitas muitas saudades! As próximas provas e metas para o resto do ano já estão todas traçadas e tem muito mais por aí!! Obrigada Port Elizabeth, obrigada África do Sul! Eu volto um dia!!!!

E no fim de um dia especial: medalhinha sofrida no peito e aquele sorriso que não cabe no rosto!!!




 


sábado, 23 de abril de 2016

Ironman South African Championship 2016 - Relato de prova - Parte 1

Eis que surgi para tirar a poeira do blog....

Deixei totalmente de lado, motivos infinitos. Mas senti saudades porque é muito bom ler e relembrar o que passou...

Sem mais demora, vou aproveitar o retorno de viagem e contar um pouco da experiência que tive ao participar do Standard Bank Ironman South African Championship 2016.

A idéia de fazer um Ironman fora do país surgiu ao voltar da maratona de Chicago, em novembro do ano passado. Já tinha resolvido que não iria para Florianópolis, mas queria fazer um Iron distance no primeiro semestre de 2016. Ao estudar as provas, vimos que o período era bom, o preço da inscrição e da viagem pesou também e então decidimos: o segundo Ironman seria dia 10/04/2016!

Inscrição feita, tudo planejado, veio a parte melhor e mais sofrida... O ciclo de treinos!!! A parte ruim de treinar para uma prova em Abril: não teve folga nas festas de final de ano! Dieta e treinos sem chance para o panetone e a preguiça... No entanto, achei esse ciclo mais tranquilo do que o primeiro iron ano passado. Não temos mais as inseguranças de completar os pedais e corridas longas... A preocupação era outra, com a performance. Mas aí é cumprir o que mandam os treinadores, a nutrição e ver que resultado teremos no final... O cansaço sempre chega nos dois últimos meses, mas senti que administrei bem melhor.

As semanas voam e quando vi, o dia de arrumar tudo chegou. Geralmente já começo a ver tudo 15 dias antes. O checklist de um Ironman é bem grande e, em se tratando de fazer a prova em outro continente, a atenção tinha que ser redobrada para não esquecer nada. Revisão da bike, equipamentos, nutrição...
Pouco mudou em relação ao que fiz para Florianópolis, apenas alguns detalhes de nutrição. Levei tudo daqui, tudo industrializado, não quis correr o risco de precisar de algum alimento e não encontrar, ou mesmo comer na prova algo que não usei nos treinos (erro que nunca devemos cometer)...

Embarque feito, aquela apreensão de quem nunca viajou com a bike para fora do país... Quase tudo certo com o despache de malas, só o imprevisto de não poder despachar o cartucho de CO2 que levamos para troca de câmaras em caso de pneu furado. Eu estava levando quatro e sabia que não podia na mala de mão, mas já tinha despachado sem problemas outras vezes... A companhia aérea barrou, a sorte que um atendente nos avisou que estavam tendo problemas com outras pessoas que precisaram descer do avião para retirar o CO2 da mala e acabaram até perdendo vôo...

A prova acontece todo ano em Port Elizabeth, cidade litorânea que fica bem no sul da África do Sul. Não há vôos diretos para lá, só temos um vôo diário para Johanesburgo. De lá, mais 2 horas até Port Elizabeth. A viagem foi bem tranquila e a bike chegou intacta no destino (ufa!!!!).

Port Elizabeth é uma graça, principalmente a parte que ficamos, local da prova - Hobie Beach. Logo de imediato, já fomos recebidos com um dos males previstos: o vento. O vento em Port Elizabeth costuma variar muito, mas raras vezes é menos do que 20km/h, podendo chegar facilmente perto dos 40km/h. Quem pedala sabe o terror que é isso! Há uma máxima dos locais que diz: West is best, East is beast... Ou seja, vento vindo do oeste é melhor. O vento leste é o temor de quem faz a prova: se sopra forte, as rajadas de vento cruzadas jogam a bike como pipa. Vou confessar que o vento, que estava 30km/h leste quando chegamos, me assustou. O mar então, nem vou comentar!!! Estava muito mexido. Mas ainda era quinta-feira e muita coisa podia mudar...

Local da largada da prova... e o vento!!!


Chegamos e nem deixamos o fuso horário de 5 horas a mais nos jogar na cama: fomos direto para a Expo que ficava num hotel a 1,5km do nosso. Já ficava claro que o clima de Ironman estava em tudo no bairro: atletas chegando, banners e sinais de atletas em treinamento, aquela coisa boa que esperamos tanto para viver! A semana de prova é sempre uma delícia e passa muito rápido!

Por comparação com a Expo do Ironman Brasil, a do Ironman South Africa é muito maior e num local bem melhor. Fica no centro de convenções do hotel principal da praia, The Boardwalk. Muitas lojinhas com uma variedade muito boa de produtos, loja da Merrel (marca que comercializa os produtos da franquia na África do Sul) bem completa, com muitos itens... O preço é semelhante aos do Brasil, já que a moeda deles é desvalorizada como a nossa. No geral, os preços de hotel e restaurantes são equivalentes ou menores do que aqui, então dói menos o bolso do que uma prova na Europa ou EUA.

O local de retirada dos kits ficava numa ala separada das lojas e ali vimos a organização; tudo era segmentado: pagamento da taxa diária da federação nacional de triathlon (obrigatório em provas no exterior), escaneamento do cartão de crédito para despesas médicas eventuais (internação ou atendimento hospitalar durante a prova - também obrigatório para estrangeiros), cadastro biométrico e fotográfico, retirada da mochila (sim! Uma mochila linda - todos os atletas ganharam - porque no Brasil não tem??) e das sacolas, número de peito e chip. Por fim, retirada das sacolas special needs (que aqui não são devolvidas no final - tudo que colocar nelas é descartado) e foto impressa no stand da Standard Bank - brinde para todos que queriam tirar. Tudo rápido! Espaço enorme, sem confusão.




Entrada da Expo...

Local de retirada dos kits, muito amplo e organizado!

Campanha contra a prática do vácuo - todos os atletas receberam um adesivo "I'm true" e puderam assinar o compromisso de fazer uma prova limpa!

Kit nas costas - felicidade imensa!!!

Tem como ser ruim fazer a prova num lugar assim???

Nesse dia, optamos por cumprir os treinos da planilha no próprio hotel em função do vento e do anoitecer. Acordamos no dia seguinte bem cedo e montamos as bikes. Hora de sair para dar um giro e reconhecer o percurso!

Trecho do ciclismo da prova - visual fantástico e as famosas plaquinhas alertando os motoristas
 Foi ali, naquele dia, que caiu a ficha do que estava acontecendo. Ali a emoção foi grande, só não maior do que a gratidão por poder viver tudo aquilo, naquele lugar lindo, fazendo o que gosto e competindo numa prova tão linda como o Ironman. Não consigo descrever muito bem o que senti nesses dias pré-prova, mas foi um sentimento muito, muito bom. Um calor na alma sabe? Daqueles que a gente sente em momentos especiais na vida!

À tarde, ainda faltava a natação. Tentamos entrar no mar em frente ao hotel, mas ali já dava pra perceber como funcionava: o vento entrava mais no fim da manhã e no início da tarde, aumentando a partir daí. Com isso o mar que no início do dia era mais calmo ficava bem mexido e até perigoso. Optamos por sair do mar e procurar uma piscina. Pesquisando na internet achei uma piscina coberta de 50m, fomos até lá de carro. Só não imaginava que ao chegar veria isso:

Uma piscina coberta aquecida de 50m só para nós. Pública. Entrada? 10 reais.
Choquei com a piscina do Newton Park. Pena que o treino era de 1500m, porque minha vontade era ficar ali pra sempre. Levar meu treinador do Brasil e ficar por ali mesmo treinando! (risos).

Na volta, mais uma corrida rápida na orla e fomos para o congresso técnico + jantar de massas. Mais uma vez a estrutura era de dar inveja para o padrão que estamos acostumados. Um salão de baile enorme e quatro buffets de massa muito bem servidos nos esperavam. O local do congresso é o mesmo da rolagem de vagas para Kona e premiação (que é feita num jantar especial gratuito para os atletas que ficam nas 3 primeiras posições em cada faixa etária e um acompanhante). É lindo, decorado, com um palco e telões.

Carbo load mode on!

Congresso técnico
No congresso técnico mais uma vez ficou evidente a organização dos caras por lá. Tudo é muito bem explicado e algumas coisas são bem especiais desse evento. O descarte de lixo é tratado com muita seriedade. Tanto que normalmente descartar lixo fora dos postos é punido com cartão azul, mas aqui é desqualificação na hora. Andar fora ou ultrapassar usando a outra pista (uma vez que a pista não tem mureta divisória e a ida e volta do ciclismo eram feitas na mesma estrada), desqualificação. Eles fazem questão de explicar muito muito bem tudo o que está no manual e salientar tudo o que devemos seguir para a prova ser tranquila para todos.

Assim, voando, chegou o sábado. Dia do treino oficial de natação. Mais cedo do que na sexta entramos no mar para fazer o treino. Comparando com o que estava o mar em Jurerê no iron ano passado, o mar aberto de Hobie Beach é bem mais agitado. Nada que coloque medo, mas aquela marola que irrita e enjoa um pouco. Mas a temperatura, que pode ser bem baixa, não estava nada diferente do que é a de Jurerê. Também pudera, o calor chegou forte e já dava um aperitivo do que seria o domingo!!!!

Ainda pela manhã, como ocorre na maior parte dos campeonatos continentais (o Ironman aqui também é um Championship do continente africano, assim como Floripa é o Latino-americano), os atletas que conquistaram a classificação do All World Athlete (AWA, programa da franquia do Ironman que seria como uma pontuação privilegiando fidelidade e performance) no ano anterior nas categorias prata e ouro são convidados para um Brunch onde convidados especiais fazem palestras. Foi muito bacana poder conhecer a Paula Newby-Fraser, campeã em Kona 8 vezes, coach do Ironman U que ouvi tanto no curso que fiz, e ouvir mais uma vez o que ela tinha a dizer um dia antes da nossa prova. Dela ouvi as frases que viriam na minha cabeça muuuuuitas vezes na prova: "Nunca comece uma prova de Ironman forte, comece num ritmo fácil. Se você achar fácil depois de algum tempo, sempre pode ir um pouco mais forte. Mas se começar forte e tiver que reduzir, a tragédia já começou e serão longos 42 km no final. Não há nada como a sensação de correr bem os últimos 10km de um Ironman!"

AWA Brunch - e o tanto que é legal ver o nome no telão? 

De lá para o hotel. Último giro de bike feito, hora do check-in de bike e sacolas. Achei o check-in bem parecido com as provas da franquia no Brasil. Não pegamos filas, foi tudo rápido e tranquilo. Só que lá não se pode cobrir a bike. Deu dó de deixar a coitadinha no sereno (risos), mas paciência, regras são regras... Dia lindo, nenhuma nuvem no céu, um calor daqueles.

Aproveitando um pouco da beleza desse lugar, não tem como ficar feia na foto!!!

Check-in feito!

Sacolas da T2 e o Oceano Índico nervosinho de Hobie Beach ao fundo!


Estava tudo pronto para meu segundo Iron!!!!!!!

Continua...

terça-feira, 7 de julho de 2015

Ironman Florianópolis 2015 - Relato de prova

Passado mais de um mês da prova, após férias de 1 semana, estou de volta.
A poeira já baixou e está na hora de fazer meu relato...

Chegamos em Florianópolis na quarta-feira 27/05. Era tempo suficiente e tranquilo para chegar, deixar todo o equipamento em ordem e curtir o clima pré-ironman. Realmente, como eu já tinha visto nos anos que fui assistir, a semana é algo fora da realidade lá em Jurerê. Parece que o bairro virou realmente a cidade do Ironman. Encontrar conhecidos, ver todo mundo que passou por um período de treinos parecido com o seu é muito, muito bom. Ao mesmo tempo você quer que chegue o domingo, mas também que não passe tão depressa o pré-prova porque é uma festa.

Procurei seguir os conselhos de amigos já veteranos de IM e fiquei um pouco distante do burburinho e dos papos de feira. Passei na feira somente para pegar o kit e ver o necessário já na quinta-feira. Na própria quinta, fizemos o treino de natação, e a temperatura da água estava perfeita. Um dia cinza ainda, mas a previsão era de melhora para o final de semana.

Na quinta à noite e sexta pela manhã chegaram meus familiares e aí a festa estava completa! Apesar de querer ver os amigos do esporte, priorizei totalmente a família. Moro longe e estar com eles, que vieram só pra me ver, foi muito gostoso e até me acalmou, me trouxe muito conforto. Na sexta à noite chegou a amiga Lia Borges que corre e está flertando com o triathlon. Minha torcida organizada estava completa e eu estava radiante.

Ainda na sexta à noite arrumei todas as sacolas de prova e fiz uma checagem (mais uma!!! foram muitas!!! rs) na bike. Nós mesmos montamos nossa bike, que já veio revisada de São Paulo. Deu tudo certo e elas estavam prontíssimas. Nós também!! Hora de dormir bem, já que a véspera ia ser tensa...

Sábado foi dia de descansar. Almoço com a família e última conferida nas sacolas para o check-in. Estava na hora!!! O IM já estava começando. Esperei minha hora do check-in e fomos para o Clube Doze para deixar tudo lá. Aí sim, começa a bater aquele nó na garganta. Eu não estava nervosa, não estava tensa, nem preocupada. Estava simplesmente feliz como poucas vezes estive na vida. As lágrimas queriam cair, mas eu segurei. Muito emocionada, chequei tudo, deixei a bike coberta, as sacolas no cabide e fiz a pintura do número. Você se sente realmente um protagonista, fotos, familiares, é muito gostoso, é a hora de fazer valer o período de treinos exaustivo.

Almoço com a família... Foi bom demais estar com eles!!!
Aquela hora que dá um nó na garganta...

E o sorriso não sai do rosto!!!


E o dia voa. Quando você vê, já é noite. Depois de jantar no apartamento com a família, voltamos para o hotel. Tomei um chá e tentei me concentrar para dormir o melhor possível. Antes da prova, eu tive pesadelos duas vezes. Com a mesma coisa: eu não acordava e perdia o horário da largada. Imagine se eu queria dormir, e o medo? hahahahaha...

Mas, como que uma bênção, dormi até que muito bem. Acordei com o primeiro toque do despertador às 3:30. Começava todo aquele ritual que fiz todo final de semana antes dos treinos. O sonho estava começando. Tomei meu café da manhã, peguei a sacola branca com todo o material que faltava, água para as caramanholas, roupa de borracha e fomos até o apartamento onde estava minha família. Lá encontramos Lia, minha irmã e meu cunhado, que nos deram uma carona até a área de transição.

Hora de arrumar tudo, checar novamente as sacolas, colocar a comida na bike e nos bolsos da roupa. Fiz tudo com muita calma, cheguei bastante tempo antes. Uma hora antes da largada já estávamos caminhando até o local da natação.

Nos encontramos novamente com minha família. Um abraço apertado, emoção e concentração, tudo junto. Era hora de entrar na área dos atletas. Chegamos e quase que só tinha nós e mais uma dezena de atletas ali. Logo seriam 2000. Sentei na areia e vi o sol nascendo aos poucos, os fiscais entrando na água. Como eu sonhei com aquele momento!!!!!! Deixei as lágrimas caírem, fechei os olhos e agradeci a Deus por me permitir estar ali.

Cara de choro...
Quando menos esperamos, a sirene tocou. Optei por largar mais ou menos na frente e bem à direita, onde geralmente temos mais atletas largando. As bóias intermediárias, novidade este ano, ajudaram bastante na navegação. Me disseram: quando você menos esperar, já estará na primeira bóia. Totalmente verdadeiro. Eu tinha muito, mas muito medo da largada do Ironman. Nunca tinha largado com tanta gente. É bem verdade que eu levei puxões, braçadas na cara e chutes, mas não achei nada demais. Já passei coisa muito pior em largadas menores. Quando me vi, tinha nadado nem 500m e já achei minha bolha. Comecei a nadar muito tranquila, encaixei o ritmo e fui seguindo com o grupo. Até a virada de bóia foi muito tranquila também. Quando vi, já estava na areia para o primeiro retorno. E que emoção me deu!!!! Logo que saí da água já ouvi meu nome, abri um sorriso enorme e segui correndo para começar a segunda perna. Um pouco antes de entrar na água, vi minha amiga Lia. Que força me deu amiga!!!! Te ver foi bom demais!!!

Fazendo a volta na areia para entrar na água novamente. Acho que quem me via me achava a louca do sorriso.


Eu não sabia se olhava o relógio ou não para ver o tempo da primeira perna. Não aguentei e olhei. 34 minutos marcava quando entrei na água novamente. Eu não sabia se nadava ou gritava de felicidade. Meu treinador de natação, mestre Wilson, me falava nas últimas semanas: você vai nadar para baixo de 1:10. Só conseguia lembrar dele me incentivando, dos treinos intermináveis de final de semana quase que sozinha na piscina da USP, do frio que passei, dos dias que madruguei. Estava valendo a pena.

Na segunda perna já entrei com o ritmo bem encaixado e procurei nadar mais forte. Tentei arriscar um pouco mais. Percebi que lá nas bóias de vértice o mar estava ficando mais mexido. Mas foi muito tranquilo. Quando menos esperei, já estava na areia de novo. A navegação me surpreendeu. Foi demais!!!! A natação tinha sido muito, mas muito melhor do que minha mais otimista previsão. E olha como eu saí da água, parecia que já tinha chegado no pórtico...

O famoso M da natação. Até que eu desenhei direitinho...


1 hora e seis minutos??? Eu nem acreditava, olha a comemoração!! Saí gritando!!! rs
Passada a empolgação da saída da água, foi hora de me concentrar na transição. Fiz uma T1 mais lenta do que eu gostaria. Resolvi pedalar usando uma camisa de ciclismo pois os bolsos maiores me permitiram levar a comida e facilitou na hora de vestir. Como eu não sabia se esfriaria na segunda volta, resolvi já colocar os manguitos e foi aí que perdi um bom tempo. Mesmo secando os braços com uma toalha, os manguitos demoraram a entrar. Mas preferi fazer tudo com calma do que esquecer algo e pagar o preço.

O que é um capacete rosa saindo para pedalar 180km? Só podia ser eu... hahahahaha
Chegou a hora onde você passa mais tempo sozinho na prova. Porque a natação passa rápido, na corrida você cruza toda hora com a torcida, mas no ciclismo... São mais de cinco horas, a maior parte conversando com seus pensamentos. O dia estava uma bênção em Floripa. Sem vento, sol sem nuvens, temperatura amena. Perfeito para pedalar.
Conversando com minha própria sombra...
Passei os primeiros 20 km ainda sem acreditar na natação que eu tinha feito. Eu ria sozinha, parecia uma boba alegre... Quando vi, já estava indo para o retorno do Shopping Iguatemi. E ali eu me emocionei quando passei na frente do apartamento em que morei nos meus últimos anos em Floripa. Quantas vezes eu sentei na sacada para ver o Ironman, sem saber se um dia eu conseguiria estar dentro da prova. Passa um filme na cabeça, de verdade.

A parte mais linda do percurso é, sem dúvida, na Beiramar e quando passamos pela ponte Hercílio Luz. Depois é aquele caminho do Túnel e as intermináveis idas e vindas na Expressa Sul. E volta novamente para Jurerê para iniciar a segunda volta.

A foto de cartão postal que todo Ironman sonha ter em Floripa...

Quando eu já estava quase no retorno em Jurerê, um susto: um barulho muito estranho vindo da roda traseira, como um pneu esvaziando. Olhei para trás e não parecia ter nada errado, mas já esperei o pior. Ninguém quer ter problemas na bike, você revisa tudo, reza para que um problema não atrapalhe o dia que você esperou e treinou tanto, mas pode acontecer. Por sorte, foi só um susto: um saquinho que algum atleta jogou foi parar bem no meu cassete. Consegui me livrar dele e vamos em frente!

Por sorte, o vento não entrou na segunda volta. Realmente foi um dia atípico no IM Florianópolis. Segui na segunda volta mantendo a mesma média e cadência do que na primeira. Mantive o ciclismo todo sem forçar, sem inventar ou arriscar. Foi o conselho dado pelo coach e pelos veteranos e segui à risca. Me diverti muito, dei risada, acenei para os amigos que estavam na prova, gritei, fiz festa. Não poderia ter sido diferente.

Um pouco menos de cinco horas e meia depois, era hora de entregar a bike. Ali eu já sabia: eu ia ser um Ironman. Só dependia de mim agora, das minhas pernas. Até ali, eu tinha feito tudo certo, dosado o esforço, me hidratado e alimentado conforme o relógio.

Usei o relógio para controlar a alimentação e hidratação a prova toda. Um erro nesta parte pode custar o dia...


Fiz uma T2 bem mais rápida e objetiva. Tênis, meia de compressão (sim, perdi tempo para colocá-las, afinal seriam 42km) e o resto carreguei comigo numa sacolinha para ir vestindo e correndo. Funcionou super bem.

Ao começar a corrida senti que valeu a pena guardar a energia, não forçar o pedal. As pernas logo soltaram. Fui me guiando pela sensação de esforço sem me preocupar com o pace, só olhava o relógio para me alimentar. E sim, eu caminhei nas subidas de Canasvieiras. Minha opinião: não há vergonha nenhuma em andar. Mais vale andar rápido e logo voltar a correr do que subir num trote manco e se cansar à toa. Mas cada um faz a estratégia do jeito que lida melhor.

A única foto com cara de sofrimento que tenho. Na subida em CanasJurê. Dói, viu?

Os primeiros 21km passam rápido, a empolgação da prova é grande e consegui manter um ritmo consistente para minha realidade. A corrida continua sendo meu ponto fraco, mas acho que melhorei muito nesse ciclo de treinos e ainda tenho espaço para melhorar mais.
A energia da torcida é uma das maiores que já vi. Cada vez que você entra na Av. dos Búzios, parece final de Copa do Mundo. Gritos, palmas, buzina. Eu tinha minha torcida organizada, minha família linda e a Lia minha amiga irmã. Eles fizeram cartazes, vibraram, torceram. Eu fui aos prantos quando vi eles pela primeira vez na corrida. Moro longe da minha família há muitos anos, a saudade é muito grande. Ver eles torcendo nesse momento e entendendo o quanto aquilo era importante para mim foi algo que eu nunca mais vou esquecer. Além disso, muitos amigos virtuais, conhecidos, amigos dos treinos e até amigos da época que morei em Floripa estavam ali. Cada vez que eu via um rosto conhecido, ouvia meu nome, eu me sentia mais forte e determinada a não desistir, não quebrar. Porque o cansaço é muito grande, mesmo que você tenha treinado, você não sabe o que vai sentir e o que vai acontecer.

Todo mundo vê o glamour da Av. dos Búzios... Mas a maior parte da corrida é assim: você e seus colegas de sofrência.
A cabeça sempre comanda e por muitas vezes eu pensei em parar e caminhar o resto da prova. Mas os dois momentos piores foram na abertura da segunda e terceira voltas. Abrindo a segunda volta, a Lia foi meu anjo e seguiu pela calçada me incentivando, gritando, não me deixando parar. Foi comigo por alguns km me apoiando de longe, mentalmente. Foi o suficiente para passar a vontade de parar e seguir no ritmo. Altos e baixos, assim é a maratona do Ironman. O segredo é saber administrar, passa rápido e quando você vê já está com as duas pulseiras no braço.

Quando passei para abrir a terceira volta, a Lia gritou: continua assim e você vai fechar Sub 11h! Naquela hora começou a cair a ficha. Eu não fazia a menor idéia de qual era o meu tempo até ali, já que eu só estava controlando a alimentação. Foi o incentivo que faltava, segurei a onda de cansaço que batia de vez em quando e só conseguia imaginar meu tempo no pórtico. Eu já podia ver a luz, sentir o momento chegando. Estava chegando ao fim o dia mais mágico da minha vida.

Depois do km 37, foi só emoção. Daquele momento em diante eu não iria mais parar. Corri com toda minha força do coração e da alma. Quando faltava pouco mais de um km, uma surpresa linda: minha irmã me esperou para correr comigo até o funil de chegada. Corremos juntas, ela emocionada, eu estava quase que anestesiada, só olhava para frente e pensava no pórtico. A Lia veio filmando e gritando, foi absolutamente incrível, nunca imaginei minha chegada tão linda...  Meus pais estavam logo na frente. Parei, abracei e chorei. Eles foram uma torcida linda demais!

 

E então entrei no funil. 10 horas, 48 minutos e 54 segundos. You are an Ironman!!!!!



Dei o pulo mais alto que consegui, aterrissei e então veio o choro, chorei muito, de soluçar. Tudo o que eu ri na prova (e não foi pouco), chorei depois da chegada.

Gosto de pensar que foi um sonho. Foi perfeito, como tinha que ser. Passou tão rápido, mas nunca vou esquecer cada momento da prova. Tenho uma lembrança tão vívida que lembro das cores, de cada parte do dia, de cada um que eu encontrei.



Foi, sim, o primeiro de muitos. A preparação é muito dura, exige abdicar de muitas coisas, mas para mim não foi um fardo. Tive meu noivo ao meu lado, um parceiro para todas as horas. Ter feito o Ironman com ele foi muito, muito lindo.
Ainda não sei qual será o próximo. Não estou inscrita para Floripa em 2016. Não sei se volto a fazer. Quero, por um tempo, guardar Floripa na lembrança do jeito que vivi o dia 31 de Maio de 2015: junto com minha família, meus amigos, na cidade que amo, fazendo o que eu gosto tanto. Nadar, pedalar, correr e sorrir. Sem sorrir, não faz sentido!!!!!!




segunda-feira, 25 de maio de 2015

E eis que chegou a hora... 6 dias para o Ironman Brasil!!!




A minha ficha estava demorando a cair. Até semana passada os problemas do cotidiano estavam me absorvendo a atenção, de modo que os dias foram passando rapidamente e não sei como, Maio voou. Me atropelou.

Ontem após os treinos (mais leves, como pede o polimento) do final de semana, estava em casa e comecei a arrumar as coisas para viajar... E então, como que do nada, a ansiedade bateu. Veio na minha cabeça um não, mas diversos fragmentos de filmes dos últimos anos. O início da corrida, as primeiras provas de 10k, a mudança para São Paulo junto com a depressão e solidão, um novo início no esporte, meia maratonas, conhecer meu companheiro de esporte e de vida, o triathlon... O roubo da primeira bike, as primeiras dificuldades e conquistas também, os amigos que fiz no esporte e que levei para a vida. A maratona de Chicago. O El Cruce, prova que no início considerei um tiro no pé, mas coloquei a cara para viver a experiência e obtive o melhor treino mental que já fiz, além de histórias para a vida toda.

E o ciclo duro de treinos. O primeiro ciclo onde razão e emoção caminharam juntas treino a treino. Desde o início, cada pequena conquista num treino qualquer de natação era o suficiente para me levar às lágrimas no vestiário. Sim, eu vivi intensamente o Ironman. Antes mesmo de acontecer, já posso dizer que foi o ciclo que mais me marcou até agora esta atleta amadora. Levei a sério porque era um sonho enorme. Cada um tem os seus, bobagem ou não esse era o meu projeto desse semestre. Não digo que abdiquei de nada, porque fazer o que fiz não é sacrifício nenhum. É planejamento e foco no que realmente importava.

Hoje, arrumo as coisas para a viagem muito ansiosa, mas mais do que satisfeita. Antes de largar sei que fiz tudo da minha maneira e da melhor maneira que podia ter feito. Peço desculpa aos amigos e à família pela ausência, ao meu namorado pelo humor que flutuou mais do que tudo. Só ele acho que sabe o que foi a experiência para mim. Ele escolheu viver tudo isso ao meu lado e não consigo encontrar palavras para expressar o quanto eu sou abençoada.

Treinos bons, treinos ruins, dias onde me sentia a Mulher Maravilha e dias onde tudo deu errado. Cada tijolinho nessa parede valeu a pena. Eu viveria tudo de novo.

Chegou a hora da festa. E quem na vida tem festa de 17 horas de duração, com comida e bebida liberadas? Dia 31 eu terei a minha!




segunda-feira, 4 de maio de 2015

TriHard Caiobá 70.3 - Relato de prova

Antes tarde do que mais tarde...
Após quase um mês de ausência, venho para postar o relato da minha principal prova nesse ciclo de treinos para o Ironman Florianópolis: o TriHard Caiobá.

A prova, anteriormente Long Distance, mudou este ano de organização e um pouco no seu percurso.
O ciclismo que sabidamente era menor do que 90 km, agora realmente tem a metragem correta. Já a corrida teve um pouco menos, mas a organização da prova no geral foi excelente.

Foi minha primeira visita a Caiobá. A cidade realmente é propícia para a prática do triathlon e há incentivo, isso me deixou muito surpresa. A praça onde fizemos nossa transição foi especialmente reformada para as provas que ocorrem lá.

Caiobá me surpreendeu... Vista do hotel, linda!!
O kit da prova foi bom. O normal, tatuagem, numeral de peito, touca, camiseta, número de bike, chips. Nenhum atropelo na entrega. Congresso técnico um pouco lotado demais, local pequeno, mas deixou tudo explicado.

Foi a primeira vez que fiz a desmontagem e montagem da bike sozinha. Um teste para Florianópolis. Na minha última viagem comprei a case Helium da Biknd por indicação de amigos e devo dizer que não me arrependo. A montagem é fácil e a colocação e transporte é muito tranquila. A primeira vez tive um pouco de dúvida e receio, mas quando fui montar novamente e desmontar foi muito mais fácil!!!

Mala bike fechada. Funcionou muito bem!!!
Confesso que cheguei no dia da prova um pouco insegura. Não fiz o Ironman 70.3 Brasília porque queria uma prova menor e mais tranquila para realmente treinar minhas transições e meu ritmo de prova para Florianópolis. Porém, com tantos treinos, o cansaço se acumula. Nem sempre você rende bem durante a semana e fica aquela dúvida: será que estou preparada?

E assim foi meu clima para a largada. Focar em cada passo, fazer uma prova pensada. Calculada.

Concentrada antes da largada. Foto: www.offshot.com.br


As condições da natação foram excelentes. Mar piscina, temperatura perfeita. Esperava até um pouco mais do meu tempo. Mas foi bom ter tido a coragem de largar no meio de todo mundo e enfrentar o bate bate de todo início de prova.

Na T1, o erro que nunca tinha cometido e que me custou alguns segundos: não deixei a sapatilha aberta para calçar na bike. Estava com o velcro fechado!!!! Esquecimento puro. Não pode mais ocorrer. Enfim, abri e calcei ali na linha de monte mesmo.

Foto: www.offshot.com.br


O percurso da bike também é excelente. Asfalto limpo, praticamente plano. Apesar de estar me sentindo forte, foquei na cadência e tentei manter em torno de 90rpm, onde me sinto melhor para correr depois. Não tenho medidor de potência, então este foi meu parâmetro. Tudo encaixou muito bem, hidratação, alimentação e posição na bike. Um único porém nos postos de hidratação desta parte: eram 3 voltas e só havia um posto no retorno lá no fim do percurso. Achei muito pouco. Ou você pegava isotônico ou água. E aí tinha que esperar mais uma volta para poder pegar outra garrafa... Minha sugestão é colocar outro posto na outra ponta do retorno.

A fiscalização tentou ser justa. Acho que nunca se consegue punir a todos corretamente, muitos vaqueiros não serão punidos e outros tantos fazendo prova honesta serão. Mas os juízes estavam atentos.

Minha T2 foi talvez minha melhor até hoje em provas. Vim nos últimos km da bike mentalizando tudo o que devia fazer, já que no Challenge ano passado perdi muito tempo. E fiz tudo muito rápido. Tão rápido que na hora de colocar tudo nos bolsos escapou um dos meus estojinhos de cápsulas de sal. Tudo bem, eu tinha outro que levei da bike. Sou a noiada da hidratação, alimentação e afins. Em prova longa, sempre levo extra de tudo!

Enfim, a corrida. Estava muito preocupada com meus treinos de corrida no ciclo. Parecia que as pernas sempre pesavam uma tonelada cada, e o pace se arrastava nos treinos. Mas confio demais no coach. E foi a hora de mostrar que a cabeça esta pronta e se as pernas estiverem um pouco mais descansadas, tudo vai fluir bem. Fiz uma ótima corrida para meus padrões. Sem quebra, sem pensar em parar, mantendo muito constante meu ritmo. Terminei a prova com meu melhor tempo em 70.3, muito, mas muito melhor do que em Brasília ano passado. Foi a injeção de ânimo e confiança que faltava para completar o ciclo de treinos puxado, cansativo, mas que estou curtindo muito.

Segundo lugar na Categoria!!!
E veio até pódio na categoria. Um segundo lugar no age group e oitavo feminino geral. Muito, mas muito feliz mesmo.





E agora segue o baile... 4 semanas para a largada de um sonho!!!!!!!!